Como disse ontem, aqui vai a minha lista com os melhores álbuns do K-Pop nessa década. Diferente da lista da Billboard, achei melhor reduzir o número apenas a 10, 25 é coisa demais. E vocês vão reparar que não tem nada de act masculino, mas aí a culpa não é minha, sim da falta de empenho dos produtores dos oppa em construir tracklists excelentes.
10. IU – CHAT-SHIRE (2015)
Em 2015, IU decidiu “virar mulher”. Em termos de K-Pop, isso significa parar de atuar como uma garotinha de 11 anos em seus releases e começar a atuar como uma adolescente rebelde de 16 (mesmo com 23 anos), chocando o público com deboches, letras de duplo sentido e conquistando a ira de uma parcela irrisória da internet, que começou a acusá-la de toda bobagem possível.
A história toda é muito boa e rendeu uma porção de momentos hilários à época, mas o troço mais interessante disso tudo ainda permanece sendo o EP excelente que serviu de símbolo para tal transição. “CHAT-SHIRE” não tem erros. Todas as suas faixas, que têm como base um instrumental mais orgânico (no sentido de não ser sintetizado, eletrônico, mas tocado por instrumentos de verdade), carregam uma aura “MPB” envolta em melodias pop que ficam na cabeça por anos. As alfinetadas de “Twenty-Three”, a sexualidade subentendível em “Zeze”, o gingado de “Shoes”, a estranheza de “Glasses”. Que grande registro.
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09. BoA – One Shot, Two Shot (2018)
Tive um pouco de preconceito com a ideia da BoA de tentar conquistar um novo público no ano passado, “recomeçando” sua trajetória com um primeiro (!) EP em vez de um novo LP. Ainda mais com toda sua tracklist sendo recheada de estilos musicais trend em vez do Pop/R&B comum à sua discografia. Felizmente, o bom senso bateu rápido e não pude resistir aos encantos de “One Shot, Two Shot”, melhor e mais completa junção de canções da tiazona na Coreia do Sul nessa década.
Tem para todos os gostos: house noventista na faixa título, dancehall das excelentes “Everybody Knows” e “Recollection” (minha favorita), urban em “Your Song” e “Always, All Ways”, latin pop em “Nega Dola”, sobrando até para os fãs de velha guarda com o popão Michael & Janet de “CAMO”. “One Shot, Two Shot”, comigo, retirou a BoA do estigma de “artista das antigas”, colocando ela no jogo de interesse ao lado de novos acts que ainda têm muito o que render.
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08. Red Velvet – The Red (2015)
O Red Velvet ainda era uma ideia nebulosa e que ninguém entendia direito lá por 2015. Uma outra pirralha tinha sido adicionada no line up, todas eram arrumadas de modo a parecerem a mesma pessoa numa olhada mais distraída, fanfics eram criadas com aquilo de lados “red” (mais maluco e espevitado, com canções bubblegum experimentais) e “velvet” (sombrio, sensual, com midtempos R&B evocativas de rádios antigas). E as coisas ficaram ainda mais absurdas com o lançamento do “The Red”, onde a SM Entertainment resolveu comprar as teorias de fãs e críticas que o grupo vinha recebendo, efetivamente, oficializando a palhaçada toda.
Com as cinco brotoejas do diabo vestidas de bonecas idênticas na capa, um título apostando em um dos tão comentados “lados” e uma tracklist toda embasada na assinatura sonora do mesmo, “The Red” se tornou um dos grandes eventos de 2015 – e da trajetória do Red Velvet num todo. Além de, sonora e visualmente, servir de molde para uma porção de girlgroups que viriam a partir dali. O repertório e tão bom e tão pop que parece montado como um best of de greatest hits trabalhados por anos, tão radiofônica e elétrica que é a experiência toda: “Red Dress”, “Dumb Dumb”, “Time Slip”, “Huff n Puff”, “Cool World”, “Don’t U Wait No More”, e segue lista.
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07. F(x) – 4 Walls (2015)
Falando em Red Velvet, rolava uma certa “competição” bocó entre os fãs das cinco cáries de beelzebub e do F(x) nesse tempo, com a galera da velha guarda acreditando que as rookies roubariam o espaço do agora quarteto, antes especialista nas experimentações sonoras dentro da gravadora. Bom, foi isso mesmo que aconteceu, mas não é como se, hoje, isso importasse de verdade. Mesmo porque, ao precisarem “crescer” e migrar pruma nova abordagem, as meninas do F(x) entregaram um de seus melhores trabalhos em todos os tempos.
“4 Walls” trouxe um F(x) mais maduro em suas sonoridades, deixando as estranhezas de lado em prol de algo mais elegante, estilizado e em linha com o que artistas europeus faziam dentro da dance music. A title é uma gema house que ditou muito do que veio no K-Pop depois, coisas como “Papi” (meio latina em sua estrutura), “Rude Love” (deliciosamente soturna) e “Deja Vu” (semelhante a produções do Yasutaka Nakata) são pérolas criativas que se sustentarão por muitos anos. E ainda tem “Cash Me Out”, “When I’m Alone”, “Glitter”. Bop atrás de bop.
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06. HA:TFELT – Me? (2014)
Porra, Yenny, nem pra botar o álbum no Spotify? 2019 já, bicho…
“Me?”, da Yenny, aqui usando o nome HA:TFELT, pois gosta de pagar de conceitual, é o encontro perfeito entre a música “artística” e “autoral” com o refinamento “idol” e “sintético” inerente ao K-Pop. A ideia inicial era que ela montasse esse debut solo sozinha, afastada da JYP Entertainment e do Wonder Girls, sendo um trabalho totalmente pessoal e “verdadeiro”. Mas aí o velho do J. Y. Park foi dar uma olhada em como as coisas estavam andando e achou a proposta toda indie demais para o cenário mainstream sul-coreano, aparando algumas arestas, mexendo aqui e ali e dando o seu toque de produtor onde pode.
O resultado foi um mini-álbum que, de fato, soa como algo mais alternativo e único dentro dessa cena, mas embebido num verniz pop que faz de todas as suas músicas fortíssimas aos ouvidos, exigindo replay conforme são escutadas e repetidas. “Ain’t Nobody”, “Truth”, “Iron Girl”, “Bond” linda pra caralho, “Wherever Together”. Um dos melhores debuts solo em todos os tempos.
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05. 2NE1 – 2nd Mini Album (2011)
Que tempo bonito esse onde a YG Entertainment se preocupava de verdade em fazer um girlgroup acontecer, investindo em vários singles, clipes e tudo mais, não? O segundo mini-álbum do 2NE1, ridiculamente intitulado… segundo min-álbum do 2NE1, foi o marco do grupo, reunindo os singles que elas haviam lançado durante tal era em uma só tracklist, o que pode parecer pouco convidativo e zero criativo, quase preguiçoso, já que o número de inéditas era limitado, mas acabou se mostrando um dos trabalhos mais completos e interessantes daquele ano – e da década como um todo.
O EP traz uma pancada atrás de outra: o mega jam “I Am The Best” abre os trabalhos, seguido da implacável “Ugly”, emocionante ao extremo. “Lonely”, “Hate You”, “Don’t Cry” e “Don’t Stop the Music” mantém o nível de qualidade lá no alto, fazendo o melhor quando o assunto são farofas ou baladões. “Crush” é meu ovo esquerdo, Billboard.
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04. Odd Eye Circle – Max & Match (2017)
Ninguém se importou de verdade com o run do Odd Eye Circle fora da patotinha que acompanhava o projeto de pré-debut do Loona, mas isso aqui foi tão bom do início ao fim. A mística de garotas querendo se encontrar ao se descobrirem como mulheres que começou com Kim Lip e se encerrou em “Sweet Crazy Love” foi lindíssima de acompanhar – embora ligeiramente sabotada pelos próprios orbits, que queriam algo mais voltado para o aegyo, o que nunca entendi direito.
“Max & Match” é o melhor mini-álbum coreano dessa década, sem mais. Nenhum outro conseguiu uma tracklist tão perfeita, criativa, milimetricamente montada para proporcionar ao ouvinte um espetáculo do início ao fim. “Sweet Deus Love”, “Uncover”, “Girl Front”, “Loonatic”, “Chaotic”, “Starlight” e o remix “Odd Front”: qualquer uma dessas poderia ser o grande lead single mudador de vidas do ano. Não acho que o Loona fique melhor que isso.
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03. Wonder Girls – Reboot (2015)
Todos sabemos que o Wonder Girls sempre teve como sua assinatura recobrar sonoridades de antigamente, mas adaptando-as para as tecnologias de gravação da atualidade. Em “Reboot”, essa ideia de throwback é levada às últimas consequências, com J. Y. Park, Yenny, Yubin, Sunmi e Lim Feia, que agora tinha ficado bonita, enfiando toda e qualquer loucura estética sonora proeminente do Pop/Rock sintetizado dos anos 80 numa porção de pancadões que embalariam os sonhos molhados de responsáveis por trilhas sonoras do cinema pipocão daquela época.
“One Black Night” ficaria perfeita numa cena de perseguição de carros em alguma bobagem maravilhosa estrelada por Jackie Chan tentando acontecer nos Estados Unidos, “I Feel You” é a cara de vídeos de malhação vendidos em VHSs para donas de casa, “Rewind” poderia estar a fundo de uma cena de beijo entre a mocinha e o cara nerd da escola que se descobre descolado. E ainda tem “Candle” piranhona pra caralho, “Baby Don’t Play”, “John Doe”, “Loved”. Um hinário incontestável.
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02. IU – Modern Times (2013)
Ainda nisso de pegar sonoridades do passado e adaptar para a atualidade, o provável melhor trabalho que vi em tal proposta no K-Pop, até então, foi o “Modern Times”, da IU. É a mesma coisa que rolou com o “Reboot” acima, mas mirando no que era grande em rádios dos tempos “modernos” – ali entre as décadas de 20 e 50. Pode parecer algo ambicioso, provavelmente entediante de ouvir nos dias de hoje, mas os produtores por trás dessa belezinha conseguiram utilizar tais referências em uma porção de faixas que não têm a menor vergonha de soarem pops em sua execução.
É inevitável não se sentir encantado pelo dueto dela com o Gain em “Everybody Has a Secret”, um tipo de tango estranho que poderia servir de base para alguma cena de musical em preto e branco concorrente do Oscar. O mesmo para “Red Shoes”, que provavelmente se inspira no longa-metragem britânico de mesmo nome para evocar algo que ficaria lindo em tela grande. E haja jazz, salsa, mambo, bebop. Sobra espaço até para a nossa Bossa Nova, na lindíssima “Obliviate”, capaz de transportar o ouvinte, em qualquer parte do mundo que ele esteja, para a orla de Copacabana nos anos 40, usando um chapéu panamá caríssimo e acenando para todos ao sol.
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01. F(x) – Red Light (2014)
Na minha humilde e incontestável opinião, não existe no K-Pop nada melhor que o “Red Light”, do F(x), em questão de álbum. Peguem o que eu falei do EP do Odd Eye Circle, onde toda a tracklist é excepcional, agora com uma escala de LP. Não há sobras em “Red Light”, tudo funciona perfeitamente. Das canções que apostam numa sonoridade mais industrial, EBM, esquizofrênica, às que optam por se manter numa caixinha poppy, tudo é de alto nível, fica na cabeça, provoca, desperta coisas, dá vontade de escutar várias e várias vezes.
Coisas como a title, “Boom Bang Boom”, “Rainbow”, “Dracula” e “Spit It Out” são de derreter o cérebro. “All Night”, “Vacance” e “Summer Love” envolvem o corpo numa vontade inacreditável de dançar. “Milk” e “Butterfly” são como cantos de sereias, etéreas, esquisitas, hipnóticas. Por essas e outras, “Red Light” é o melhor álbum lançado dentro do K-Pop durante essa década.
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Quase entraram: “The Cloud Dream of the Nine”, da Uhm Jung Hwa, “Full Moon”, da Sunmi, “Wish & Wind”, da Heize, “[++]”, do Loona e “The Story of Light”, do SHINee.
Meus faves (Red Velvet, Loona e quase Sunmi) sendo enaltecidos!!!
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achei que faltou essas duas delicinhas aqui (uma com a quase-cota-de-bg junto com o shinee e a outra como o trabalho mais completo das garotas bonitas).
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Nhé, não gosto muito do LP coreano do AOA não (prefiro o segundo álbum japonês).
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Muito boa as suas escolhas, do jeito que vc montou ficou muito consistente, alguns ai mudaria de posição se fosse colocado no meu gosto, mas mesmo assim gostei.
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Gostei bastante do jeito que você montou! E achei bem legal sua opinião…
Pra mim os melhores álbuns são o do 2ne1 (citado por vc no post), Crush (2014) também do 2ne1, e o álbum “Return” do iKON (2018), esses 03 são os únicos álbuns que escuto todas as faixas sem pular nenhuma!
Enfim, adorei o post… E deixo aqui meu último cover “Yes or Yes” do TWICE, pq eu me divulgo sem permissão no blogue de todo mundo kkkkk
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Obs: tem também o Blooming Period do Block B, que eu amo de paixão, e esqueci de citar kkkkk…
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