Em 2017, muito se discutiu no meio capopeiro sobre a decisão da Cube de debutar uma nova unit com a Hyuna, juntando-a com dois rapazes do Pentagon.
Um meio da gravadora promover o novo boygroup, que até então ainda não tinha atingido os resultados esperados? Uma maneira de manter os olhares do público na HyunA, agora que já não tinham mais o 4MINUTE para preencher os espaços vazios entre seus comebacks solos? Uma suposta tentativa de recriar a magia inusitada, jovial e rebelde feita com o Trouble Maker, em 2011, agora com um line up rejuvenescido?
Bom, na verdade, todas as respostas acima. E enquanto vocês se preocupam com todos esses pormenores já habituais na cena Pop coreana, prefiro me focar no quão legal está 365 Fresh como música e como MV, sendo esse mais um grande destaque positivo de 2017…
Musicalmente, “365 Fresh” é uma ode à sonoridade Funk dos anos 70, do instrumental mais rico, recheado de balanço e de melodias catchy, até a letra que fala sobre buscar novidades na âmbito sentimental/sexual, sair do feijão com arroz diário para um tipo de relação menos pretensiosa, menos cercada de regras, mais aberta a provocações.
Eu nem me surpreenderia se essa fosse uma produção assinada pelo Mark Ronson como uma tentativa de ampliar a nacionalidade de suas parcerias musicais, pois o resultado final ficaria em casa no excelente “Uptown Special” que ele lançou em 2015, que a maioria das pessoas conhece apenas pela parceria com o Bruno Mars em “Uptown Funk”, mas traz ainda outras sei lá quantas faixas que variam entre ótimas e excelentes – I Can’t Lose, Leaving Los Feliz e Summer Breaking são minhas favoritas.
A interação vocal do trio é bastante interessante, com Hyuna exibindo seu timbre facilmente memorável e associável à sua figura, rapaz-genérico-número-1 segurando as pontas com uma interpretação mais limpa e melódica e rapaz-genérico-namorado-dela sendo quase uma versão mais jovem do G-Dragon, cantando de maneira esganiçada que, comigo, não funcionaria caso fosse uma faixa solo, mas totalmente cola em grupo.
E as coisas ficam ainda mais legais com o acompanhamento visual e todo o trabalho colocado nele de modo a fazê-lo como se fosse um filme setentista maravilhosamente sujo e delicioso de apreciar, colocando em tela vários e vários signos remetentes a esse período cinematográfico.
Cara-genérico-número-1 encarnando o estereótipo do bandido bon vivant, bem arrumado, apessoado, que frequenta casas noturnas e é notável, mas sustenta essa falsa vida através de pequenos golpes aqui e ali. Cara-genérico-namorado-dela representando o personagem destruído pela vida, que não encontra seu lugar e desconta isso em vícios e tentativas frustradas de suicídio. Já HyunA, a garota que vai para o esgoto contra sua vontade, assassinando por acidente um homem que tenta estuprá-la.
Por acasos do destino, o trio acaba se unindo, na típica compreensão mútua de “uou, que merda a nossa vida”, e embarca numa aventura noturna sem qualquer rumo. É interessante que as referências ao cinema pessimista da década de setenta são tão fortes que o diretor aqui também usou o carro e o conceito de road trip como metáfora à liberdade, recurso muito comum naqueles tempos onde a população mundial (com foco maior nos EUA) não tinha muita ideia ou esperança de como seria o futuro após cada esquina.
Por acaso, o carro onde eles estavam, roubado de duas meninas numa balada pelo Cara-genérico-número-1, ironicamente, continha uma quantia demasiadamente grande de dinheiro para o considerável “honesto”. Ou seja, também eram ladras. E aí entra aquele pensamento de que roubar de ladrão é perdoável e que isso pode ser alguma recompensa da vida para amenizar as sofrimentos acumulados até então.
Os três abraçam esse presente e saem para festejar, tudo regado a álcool, drogas consideradas censuráveis para os sul-coreanos (huahuahua com o baseado cenográfico sendo ocultado) e sexo, a dois ou a três. Tudo à maneira setentista, desregrada, aproveitando o momento.
O resultado final é algo soberbo, espetacular, lindo aos olhos. Uma produção rica visualmente, que faz bons usos das referências colocadas, com metáforas bem construídas e executadas. A imagem final acima é quase que um resumo conceitual da narrativa formada. Os três, após a vida fodê-los com força, resolvem se libertar de tudo e exibem uma felicidade escapista minunciosamente construída por fatores consumistas quase que invisíveis no cotidiano. Quer dizer, eles estão com roupas novas, tomando uma lata de coca-cola em uma lanchonete com um letreiro escrito “Because I’m Happy” atrás. Isso é MUITO cinema dos anos setenta.
E todo o fato de o vídeo ser propositalmente pra baixo, deplorável, mas a música tocada ser o completo oposto, com um instrumental energético, grudento, para cima, é de um contraste delicioso.
O gosto final que fica é o melhor possível. A faixa traz elementos que me agradam e totalmente me viciou, o videoclipe é o melhor da carreira de todos os envolvidos, a unit foi bem azeitada, o mini também foi interessante. Na real, não tenho do que reclamar. Uma pena que, tempos depois, a Cube não segurou a barra da HyunA não se importar de exibir seu namoro com o E’Dawn por aí e cagou em tudo, resultando na demissão do casal da gravadora e, consequentemente, no fim do trio. A vida é chata, eu sei, mas ela segue.
Fiquem aí com alguns outros clipes que tem essa pegada cinematográfica inspirada no estilo dos anos 70 e pensem o quão ainda mais promissor o Triple H poderia ter sido sem as amarras sul-coreanas que não os permitiam ir além…
Esse último é NSFW, hein
Um comentário em “Time Machine: Em “365 Fresh”, HyunA debutou pela quinta vez com uma ode suja aos anos 70 ♥ (2017)”