Lady Gaga, BLACKPINK, “Sour Candy” e músicas coito interrompido

Acho que todo mundo, com a idade, começa a desenvolver algumas chateações e implicâncias com determinados modismos de épocas atuais que vão de conflito com o que achava legal em momentos de maior juventude (ou de tempos em que nem eram nascidos). Dentro do meio otaco, há uma galera que jura que produções atuais, ainda que disponham de maiores recursos tecnológicos para sua execução, não amarram os sapatos de desenhos feitos com o orçamento de trinta ienes, cara e coragem nos anos 80. Já no meio “cinéfilo” (cacete, como odeio esse termo ridículo), há quem defenda que o cinema de verdade morreu com o fim dos anos 70 (tipo, quatro décadas atrás, sério).

Ouvindo Sour Candy hoje mais cedo, descobri qual a minha implicância tiozão rock wins com bagulhos para jovens atuais: eu detesto essas músicas curtinhas da “geração streaming“.

Isso aqui já estava sendo aguardado dentro da fanbase koreaboo há algum tempo, sendo provavelmente o lançamento mais relevante do nicho esse mês, ainda que vindo em um álbum ocidental. A equipe da Lady Gaga foi bem esperta em enxergar que o K-Pop é algo ENORME hoje em dia, faturando muito internacionalmente, apontando no BLACKPINK a opção mais segura, embora menos ousada, nesse meio para uma colaboração. Dos acts coreanos atuais, Jennie e as outras são a com o maior apelo para esses lados aqui do globo, arrecadando uma quantidade considerável de fãs que, naquilo que já falei outro dia, investem bastante tempo e dinheiro em consumir QUALQUER COISA que saia delas, com campanhas imensas de replays em singles em quaisquer plataformas de streaming que eles estiverem disponíveis. Coisa que, ao mesmo tempo, joga a favor e contra o quarteto, já que a YG Entertainment enxerga nisso uma oportunidade certeira de faturar bastante com pouquíssimo material.

Nesse feat., a Lady Gaga será a que mais sairá ganhando, já que, por associação, levará um boost de audições no Spotify, YouTube, etc. e isso, sendo realista, viria até mesmo se a faixa fosse uma baladinha ao violão com as quatro fazendo coro para ela no refrão. Então, é uma pena que, pra essa track, ela tenha utilizado ainda outra estratégia atual de sucesso na música pop: a de apostar numa minutagem curtíssima para que o ouvinte não esteja satisfeito com o que escutou e deixe-a em loop por muito tempo, o que multiplica a quantidade de views nas plataformas mundo afora.

Essa estratégia de músicas de menos de três minutos tem sido corriqueiramente adotada por vários artistas ocidentais. Uns até que acertam, conseguindo comprimir nessa pouca quantidade de tempo todos os pontos “obrigatórios” dentro de uma boa música pop (repetir o refrão grudento ao menos três vezes, com versos fortes entre as duas primeiras e uma bridge diferente do resto antes do final). Dois exemplos ótimos disso:

“Good As Hell”, da Lizzo, em 2:31, servindo tudo o que é necessário servir sem tomar tanto tempo entre todas as seções…

E “Boss Bitch”, da Doja Cat, que dura mais ou menos 2:10, mas faz tudo o que é possível da maneira mais propositalmente frenética viável e coerente com a proposta amalucada adotada.

O problema é que essas duas, na minha cabeça, são exceções, pois são pouquíssimos os que, de fato, apresentam uma faixa curtinha sem que ela pareça incompleta. O pior exemplo dessa leva é essa aqui:

A Iza conseguiu fechar uma parceria com a Ciara, fazendo ela cantar em português, mas a única sensação que tenho com “Evapora” é que ela acaba antes de terminar. O refrão repete só duas vezes, não tem bridge, não tem um momento de ápice sonoro. Isso tudo, propositalmente, para que o ouvinte fique com aquela impressão de “Ué, mas já acabou?” e ouvir de novo, várias e várias vezes, para suprir esse “vazio” que não foi fornecido pela música numa primeira audição. Coisa que eu genuinamente DETESTO. E que infelizmente foi replicada pela Gaga aqui, sem necessidade alguma, já que os blinks ouviriam e repetiriam sem esse tipo de bobagem.

“Sour Candy” tinha tudo para ser um dos destaques positivos de 2020. A proposta “pop bitch” descontraída é ótima, trazendo versos que parecem não se levar tão a sério e uma vibe que soa escapista para os tempos atuais sendo bem executada num instrumental 90s dançante gostosinho, inédito dentro do repertório enxuto do BLACKPINK. As linhas entre o grupo e a Gaga são bem divididas e tudo ficaria muito gostoso com mais uns trinta segundos de duração, onde entraria um último refrão ainda mais intenso para bater cabelo fingindo que é um androide deitado no chão de um quarto escuro. Mas aí a música morre sem um final impressionante, com um gosto amargo de que foi parada justamente quando o melhor surgiria. É o que costumo chamar de caso “música coito interrompido”.

Dava para ser um top 3 dentro do catálogo do BLACKPINK e um top 20 na do Lady Gaga, mas assim, tenho certeza que, no futuro, só me lembrarei de “Sour Candy” como ainda outro exemplar de um modismo bocó que eu já não era jovem o suficiente para aproveitar. Prefiro gastar meu tempo com Heavy Clouds But No Rain, do GWSN, que executa a mesmíssima proposta garage house, mas com uma música completa e que não irrita pelo plano bocó de aproveitar a mania estúpida dos adolescentes atuais sem paciência para curtir uma mesma música por três longos minutos. Porra, Lady Gaga, até nisso de “se adequar à garotada” você quer copiar a Madonna? -q

26 comentários em “Lady Gaga, BLACKPINK, “Sour Candy” e músicas coito interrompido

  1. eu tenho essa implicância com uma música do eric nam que acaba no que podia ser uma bridge maravilhosa (e seria fácil pra mim uma das melhores músicas de 2019)

    daqui a pouco surgem os extended mix de sour candy feito pelos fãs e todo mundo sai ganhando… no aguardo.

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    1. aliás, adoro essas músicas com essa vibe catwalk… sour candy já é uma das minhas favoritas junto com secret da seohyun e yuri do snsd (e o comeback?) e sunset do knk

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        1. mas e todo o papo de “ai saimos da sm mas continuamos no snsd como 8 irmas unidas e blablabla” que jogaram pra cima do fandom? sim, eu vou me iludir…

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  2. Chocado que Boss Bitch tem 2min e pouco pq eu escuto e parece que passa dos 3 min sossegado haha
    Mas oq me pegou mesmo nessas últimas músicas da Gaga é que tudo está mto abaixo do esperado, não sei se pelo hype que colocaram em cima (Isso parece osmose, pq vc pode estar chills, mas vc fica ansioso pela ansiedade dos demais), ou se é pq ela mirou nesse estilo e não muda mto para fazer funcionar (Só penso em Woowa do Dia que da de 100 a 0 nesses Disco/Dance House de hj)

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  3. Gaga devia ter pedido uma orientação da Pabllo Vittar sobre como fazer músicas curtíssimas que ainda assim soem completas. Agora já foi, fica pra próxima.

    No geral eu compartilho dessa sua implicância específica de tiozão com bagulhos para jovens atuais. Fazem falta músicas como as que a Madonna ou a Janet Jackson desovavam lá pelos anos 90, frequentemente com mais de cinco minutos, onde cada segundo é aproveitável.

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    1. Imagino que, nessa época, como os singles eram vendidos de forma física, existisse uma preocupação em fazer valer o dinheiro de quem comprou com um conteúdo de maior duração, coisa que, hoje, onde o que vale mais são as repetições incansáveis, não faz mais sentido. Talvez por isso os singles japoneses ainda hoje sejam mais longos.

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  4. NOSSA SIM kkkk, eu acho que ainda sou jovem e suficiente (???), e mesmo assim essa música não desce, esse vazio me dá muito agonia e me afasta muito dessa música (tanto que ouvi só duas vezes? só pra ter certeza que era só isso mesmo)

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  5. Me sentindo representadx em um post. Nasci em 92 e essas músicas curtinhas são o perfeito reflexo dessa geração de jovenzinhos impacientes. Doce Azedo poderia ter MAIS UM MINUTO DE MÚSICA, APENAS.

    Dito isso, quero fazer uma crítica a uma música que amo muito do KARA. “Jumping” é minha música favorita delas, mas ela não chega a 3 minutos de duração e tenho um sonho utópico de ver Sweetune lançando uma extended version dela dobrando o tempo da intro e fazendo uma leva de versos diferente e tambe´m estendida antes da segunda vez que elas cantam o refrão. Com isso, a música poderia chegar a uns 3 minutos e meio, talvez?

    Ela não chega a ser uma “música coito interrompido” (kkkkkkk), mas chega a ser uma “rapidinha satisfatória”.

    [Porra, Lady Gaga, até nisso de “se adequar à garotada” você quer copiar a Madonna?] = Já temos a melhor tirada de blogosfera de 2020, cancelem o coronavírus

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  6. A propósito, viu o vlogão do LOONA de hoje? Tá ficando difícil continuar chamando a Pirralha do Sapo de Pirralha do Sapo, ela tá com mais cara de adulta que várias das colegas dela (incluindo a ViVi, que rumores dizem já estar na faixa dos 30)…

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  7. ai ta bom gente que inferno!
    já li 2, dos 3 blogs ~haha~ mais importantes (?) de capope no brasil e finalmente mudei minha opinião, aqui e agora.

    real, não sou blink e ja fui little, porem 90% das coisas que BP ou LG lançam eu curto horrores. eu amei a musica mas ficou aquele sentimento de “já acabou?”
    sou de 95 e dps que li esse post eu fiquei “porran, sou mt velho por não curtir essas modinhas adolscentes, putz?”
    que odio disso, ter que ficar em loop infinito em uma musica pq ela não te completa na 1ª ouvida, nem na 2ª, nem na 3ª etc… aff. essa da iza mesmo, só ladeira abaixo… (garupa tb é uma lástima no quesito duração).
    hahah vale lembrar que eu não tinha parado pra pensar sobre essa ideia de que musica curta aumenta os views (cuidado com a burra).

    enfim, chromatica tem altos hinos e sour candy podia ter sido melhor mas não foi. o que nos resta é ligar o botão interior de cadela fudida fracassada e curtir essa porcaria até não querer mais.

    obs.: eu uso mt o twitter e desaprendi a escrever correntamente, mas como bom e velho capopeiro vou me safar dessa com uma frase icônica e atemporal: “desculpa ~qualquer erro~ eu to muito nervosa”

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  8. Começa promissora e depois a primeira parte do verso da Gaga abaixa o nível. Acho uma faixa ok, também senti falta da bridge, que os blinks tão chorando dizendo que seria o rap da Lisa.

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  9. a diferença entre as vozes das pinks e a da gaga…………

    Eu tbm tenho essa implicância com as músicas dessa ~nova geração~, pode ser grudenta mas nunca tem nada “épico”, fora que parece que mesmo que vc ouça umas 83737392 vezes elas enjoam MUITO rápido??? Fico me perguntando se o problema são esses produtores novos que realmente não sabem como é a estrutura de uma música, só aquelas amostras curtinhas de soundcloud…
    Mas eu não implico tanto pq pode ser mesmo um atestado da minha velhice kkkkkk como velha só me resta aceitar que vai ser assim daqui pra frente

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  10. eu com 17 já percebi que essa geração é preguiçosa pra cacete mesmo, dois parágrafos curtos já é “nossan que textão, preguiça” e agora até com música é assim. já vi blink agradecendo pela duração curta, dizendo que é menos cansativo e facilita pra dar stream (é só isso com o que eles se importam aparentemente). esse nao é meu mundo, meu pai. decaiu hein!

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  11. Falando no Blackpink, fui comentar num post de um vídeo sobre o Blackpink que gosto delas mas acho que o k-pop tem pelo menos uns vinte girlgroups melhores, e agora as blinks estão surtadíssimas.

    Acho que é a primeira vez que eu vejo de perto a fúria da pirralhada blink. É… triste.

    (e pior que eu gosto do Blackpink, nem estava falando mal delas)

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    1. Nessas horas (e SÓ nessas horas) dá um certo conforto saber que essa pirralhada vai ter que continuar aturando a péssima gestão do YG com a carreira do Blackpink.

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      1. O lado bom foi que nessas eu descobri que dá pra bloquear certos tipos de notificações no Twitter.

        Sim, eu sou péssimo com redes sociais.

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  12. A musica é sem graça demais e ainda é curta no sentido de não fazer sentido nenhum? Começou até legal, mas é chata da metade até o fim.
    Esse lance de musica curta eu acompanhei no faro lá em meados de 2008 com a banda Mindless Self Indulgence que tinha um gênero meio punk, meio baixaria, meio rap e meio pop. Eles tinham músicas com os minutos curtos, de inicio detestava, mas eles sabiam colocar elementos ou intros onde não parecia ser tão rapidamente.
    Essa musica da Lady Gaga não teve nada pegajoso ou que te fizessem lembrar depois. As da banda que citei faziam isso com perfeição fosse negativo, fosse positivo.

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