Com “Tonight”, Blackswan surpreende e entrega um dos melhores debuts femininos de 2020

Olha, minhas expectativas em relação a isso aqui estavam baixíssimas. Contudo, acredito que, mesmo se fosse um projeto megalomaníaco como o Loona, ou de uma empresa grande como a SM, eu teria ficado genuinamente impressionado. Tonight é um dos debuts mais legais desse ano e o Blackswan conseguiu servir uma estreia que vale a pena mesmo sem a pataquada toda da DR desnecessariamente envolvendo o Rania…

Para quem chegou nesse post sem acompanhar o caso todo nos últimos dias, um resumo: Blackswan é um grupo “novo”, mas que na verdade é a continuação, só que com outro nome, de um outro, o Rania, ainda que só uma das integrantes da última formação desse tenha sobrado no novo projeto. Falei mais sobre isso nesse post aqui. O lance é que as coisas vinham sendo tratadas pela DR Music, gravadora delas, de uma maneira, ahn, “esquisita”, com a pachorra hilária de nomearem o álbum de debut delas como “Goodbye Rania”, fazendo dessa estreia um enterro.

Isso em pauta, eu jurava que o Blackswan seria uma enorme porcaria que eu curtiria unicamente pela ironia, tal como um Pocket Girls ou um Laysha da vida. Mas calhou que o resultado foi surpreendentemente bom, com os produtores acertando a mão em TUDO: música, clipe, táticas para “vender” corretamente cada menina em tela e, vejam só, até nas album tracks inéditas (mas delas eu falo mais pra frente).

Musicalmente, “Tonight” faz bastante por minhas playlists diárias, levando em conta que esse estilo somando EDM com rock anda bem em baixa no K-Pop ultimamente. O instrumental mais pesado auxiliado por uma porção de estrofes grudentas que, por si só, já parecem refrães, é delicioso. É algo que eu imaginaria uma Koda Kumi ou Ayumi Hamasaki da vida soltando no começo da década passada e viveria por isso, tal como estou vivendo pelo Blackswan fazendo agora.

O MV também é ótimo, caprichado nos figurinos, cenários e em ideias interessantíssimas em tela. As duas que mais gostei:

Essa parte onde todas estão amontoadas no chão dum vestiário (?) e a câmera vai pegando de baixo pra cima, esteticamente bem bonito…

E essa parte onde rola um eclipse e entra a Fatou-poliglota. A alegoria falando ao público que as coisas agora vão “escurecer” é esperta, sutil e bem executada. Falando ainda da Fatou, gostei também que, diferente do que rolou com a Alex, que era tratada como um feat. de luxo no BP Rania, a ideia aqui é que ela seja mesmo uma integrante, aparecendo com as outras, fazendo parte da coreografia e tudo mais. É a que tem menos linhas, só canta mesmo no rap (e com um vocal bem diferente do normal ao K-Pop), mas a direção do clipe deu um jeito dela tomar mais tempo de tela que isso nos “looking at me, looking at me” robotizados que devem ter vindo na demo e ninguém quis refazer.

Por mim, que ótimo. Como o Dougie disse no post dele, ao menos nisso a DR deve ter aprendido algo com a pá de merda toda anterior. Se é para faturar uns cliques em sites de fofocas com o gimick de uma integrante negra num girlgroup de K-Pop, que de fato usem uma integrante negra como parte do line-up.

“Olha pra mim, olha pra mim…”

Achei a Fatou-poliglota estonteante. Ela tem uma beleza “Tyra Banks e outras modelos com mais busto nos anos 90” que é bem intrigante de olhar. O olha dela é meio hipnótico e, em minha opinião, é a que mais chama atenção em tela.

A brasileira Leia também está muito bem nas cenas e linhas dela. Só não entendi o porquê de fazer menção à Barbara Kruger nesse take e não colocar ele em preto e branco só com as fitas de isolamento em vermelho. Mas acho que essa é uma referência tão limitada ao pessoal que estuda comunicação que nem faria tanta diferença assim…

Por fim, a Hyeme também está gostosíssima. Me parece uma Yves mais boazuda e menos modelo de passarela que a original. Quanto mais Yves, melhor. Acho que a maior parte das linhas ficou com ela, provavelmente por ser a mais antiga na gravadora. O vocal dela é bom e casou com o contexto todo, embora não tão “específico”. Não dá para diferenciar tanto ele do da loira turbinada ex-Stellar que grita e da outra gatinha lá que não me encantou tanto para olhar o nome ou criar um apelido, mas esses três, em contraposição com os mais diferenciados da Fatou e da Leia, colam legal.

O álbum, no entanto, é uma enorme piada de mal gosto. Os remixes todos de músicas antigas são um lixo (o de “Dr. Feel Good” chega a ser ofensivo de tão amador) e terem colocado quase todas as faixas do BP Rania sem regravar os vocais não ficou tão divertidamente irônico quanto eu imaginei que ficaria, só preguiçoso mesmo. A Alex só não é a integrante que mais aparece na tracklist porque a Hyeme também estava no grupo junto com ela.

Foquem nas inéditas, ambas muito boas. “Over & Over” funciona muito bem como uma farofa eletrônica mais datada e “Let Me Dance” nos transporta diretamente pra metade da década passada, onde era só uma porção de garotas se juntarem na Coreia do Sul que uma midtempo sensual e sombria nascia.

Enfim, ótimo debut num geral. Tomara que a atenção internacional que isso está gerando anime a gravadora de continuar investindo para que elas aconteçam como um KARD da vida e venham mais músicas e videoclipes legais assim. Agora que o K-Pop reviveu o mina-fodona-concept, poderiam reviver também o sexy concept feito por cavalonas mais velhas antes de o white aegyo puritano pedobait voltar à tona.

9 comentários em “Com “Tonight”, Blackswan surpreende e entrega um dos melhores debuts femininos de 2020

  1. Também achei a música e o MV muito bons. Ainda não sei muito bem o que achei do rap da Fatou; a voz dela é bem diferente para os padrões do k-pop e isso é ÓTIMO, mas achei que faltou um pouco de “flow” nele.

    É interessante como as belezas dela e da Leia (que apesar da ascendência japonesa, pra mim parece mais brasileira/latina do que oriental) ao mesmo tempo contrastam com as das outras três integrantes e complementam as delas. E realmente, a tal Hyeme é a cara da Yves (que por sua vez é a cara da finada Sulli), belíssima!

    Um bom debut, apesar de toda a bagunça da agência delas; agora é torcer pro comeback ser igualmente bom, e um pouco mais organizado.

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  2. Quem diria que o Blackswan não entraria na lista de grupos “a treta é mais divertido de acompanhar que o debut/comeback” né?
    Estou genuinamente surpreso

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  3. O debut me surpreendeu, até porque, eu nunca tive saco para o Rania e as inúmeras polêmicas que eram mais relevantes que qualquer coisa que lançaram musicalmente. Nem fazia ideia que tinha uma brasileira no grupo!

    Acho que estão lidando melhor com ter uma integrante de outra etnia do que antes por causa da ocidentalização do kpop dos últimos anos. Deixa de ser um fator de choque a ser explorado na Coreia e passa a ser uma maneira de angariar fãs internacionais.

    (O que mais me impressionou nessa referência à Krueger e outros detalhes que minha paixão por semiótica escancara é o quanto o valor de produção no kpop subiu, mesmo empresas de fundo de quintal hoje conseguem fazer um MV decente – compara com as caixas de antigamente de empresas grandes até)

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  4. Se for comparar com outros grupos, esse foi o mais interessante_ não tentou emular os grupos grandes, elas me lembram o kpop passado onde tinha muito carão, e não cara de robô como vários grupos fazem hoje em dia.
    A Fatou definitivamente brilhou e gostei do timbre da voz dela, na minha opinião ela se destacou mais do que a brasileira_ que as vezes achei meio avulsa_
    Sobre a musica é uma batidinha bacana numa coreo fácil. Será que vão mesmo abraçar elas como Kard ou sera só fogo de palha?
    E claro, sem esquecer, o mv ta muito bem produzido e nem parece coisa muito de nugu

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