MINI-ALBUM REVIEW | HA:TFELT – Me? (2014)

2014 foi um grande ano para álbuns. Por conta disso, várias album tracks aparecerão no já anunciado eventual topzão de melhores desse ano. Para começar os trabalhos de “esquenta” pro listão, separei o que deve ter sido um dos lançamentos mais significativos (em qualidade, não em relevância ou vendas) do K-Pop naquela época: o debut solo da Yenny, do Wonder Girls, sob a alcunha de HA:TFELT.

Confiram meus pitacos a respeito do Me?:

File:HATFELT - Me.jpg

Todo o contexto e a história por trás do “Me?” acaba sendo de suma importância para que as escolhas dentro dele sejam compreendidas e justificadas quando levamos em conta que ele foi lançado por uma Wonder Girl, dentro da JYP Entertainment, mas sem o nome dela como idol ou tantas semelhanças com o bubblegum pop facilmente associável ao grupo.

A essa altura do campeonato, a gravadora enfim havia desistido de fazer com que o Wonder Girls acontecesse nos Estados Unidos. O quinteto estava em hiato, Sohee fora, Sônia mais ocupada como dona de casa, várias incertezas sobre comeback e um debut surpreendentemente bem aceito da Sunmi (até então, “ex-Wonder Girls”) como solista no ano anterior.

Nesse meio tempo, Yenny se mudou para Nova York e se dedicou a compor (com ajuda de alguns produtores) todas as canções desse que seria seu álbum solo. No entanto, as faixas foram adquirindo uma estética não tão coerente com o que era esperado dela, o que gerou um confronto de ideias com o J. Y. Park, insatisfeito com o rumo que aquilo estava tomando. Ambos chegaram num meio termo conceitual, sonoro e estético, cada um cedendo um pouco, até que o “Me?” chegou em seu estágio final. Para tanto, a Yenny resolveu assinar o EP como “HA:TFELT”, seu título de compositora, explicitando que não deveriam esperar na tracklist o que esperariam de algo relacionado ao Wonder Girls.

Honestamente, toda essa trama sempre me soou pretensiosa e exagerada. No entanto, é possível, sim, que identifiquemos em tais faixas ideias mais ousadas que acabaram sendo aparadas a fim de o resultado final soar mais radiofônico. O que, em minha opinião, é o que faz toda a diferença e eleva o “Me?” prum status altíssimo no panteão de lançamentos coreanos dessa última década.

Iron Girl, colaboração com a Lim Feia nos trechos de rap, soa como uma balada post grunge, quase como uma versão um tiquinho mais light de algo que o Audioslave faria. A diferença de interpretações entre a Lim e a Yenny é interessante de ouvir, com a primeira mais enérgica, meio debochada até, e a outra imprimindo um mix de sentimentalismo, depressão e sensualidade. Versos ótimos, refrão ótimo, resultado arrepiante.

Truth imerge ainda mais nessa mistura de sensações, com ela colocando o máximo de passionalidade permitida em seu delivery vocal por cima de um arranjo eletrônico bem denso, dramático. Amo como tudo vai numa crescente de peso, subindo em todos os sentidos sonoros até um grande ápice ao fim.

Já Ain’t Nobody pega esse clichê de power ballads, tira inúmeras cópias numa máquina de xerox, rasga em vários pedaços e remonta de forma brilhante, com diferentes ápices ao longo do caminho em vez de um só. Os momentos onde ela se mostra mais sã na letra são interpretados com certa delicadeza vocal enquanto corre um instrumental orgânico atrás. Quando ela perde as estribeiras, o canto se torna mais gritado, descontrolado, e o que era tocado por uma banda é imediatamente substituído por uma explosão de sintetizadores. Sem sombra de dúvidas, uma das melhores baladas da história do K-Pop.

Bond, escolha do J. Y. Park para single ignorada por ela, é o momento mais sexual do álbum. Yenny novamente brinca com clichês, dessa vez do que é associável a trilhas de filmes de espionagem (a timbragem da guitarra, o ~mistério~ etc.) e coloca num pancadão safadíssimo sobre o James Bond comê-la de vários jeitos durante uma noite, enfiando diferentes metáforas eróticas no caminho. Ela pronunciar os zeros de “007” como se tivesse gemendo é uma das coisas mais impagáveis do EP.

Se toda a lista de tracks até aqui, instrumentalmente, soava sombria, tensa, em Whetever Together tudo se inverte, tudo se torna brilhante, bonito, vibrante, edificante. São como fogos de artifício em forma de EDM. E é incrível que, mesmo num troço voltado para as pistas, a desgraçada consegue colocar uma interpretação emocionalmente cativante.

Esse mesmo punch vocal tira Peter Pan e Nothing Lasts Forever do lugar comum de baladas acústicas (uma tendo o violão como destaque, a outra o piano), fazendo com que um tipo de som que qualquer um poderia fazer no automático acabe se tornando memorável, tocante, sensível.

E o gosto que fica ao final beira ao impecável. O único amargor, ou defeito, se é que isso pode ser qualificado como, é o fato disso ser um EP e não um álbum completo. Adoraria que ela adicionasse mais umas duas ou três canções nesse clima e fechasse um LP de verdade.

Fora isso, acho que a única coisa que me impede de dar uma nota máxima para o “Me?” é “Nothing Lasts Forever” ser, huh, alternativa além da conta. Há um balanceamento legal entre o lado mais autoral da Yenny e o comercial do J. Y. Park que faz do pacote completo algo bem redondo, coisa que não rolou nessa última track. Mas, ó, é frescura minha. Isso aqui é um dos maiores troços do K-Pop ~alternativo~ como um todo. Ouçam sem medo.

Nota 9

4 comentários em “MINI-ALBUM REVIEW | HA:TFELT – Me? (2014)

  1. A idol indie que todo mundo respeita, graças a esse EP. Ela foi ousada mesmo em ir por um caminho totalmente fora da curva na carreira solo. Pode não estar fazendo grande sucesso, mas parece estar satisfeita com o que faz e com o que conquista, e nós certamente estamos satisfeitos com o trabalho da Yenny/HA:TFELT.

    (e é impressão minha ou esse EP dela tem duração MAIOR que o “full album” do BlackPink?)

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  2. Em outras notícias, viram que a Mnet oficializou o Boys Planet?

    Ela publicou quatro versões do trailer (em coreano, mandarim, japonês e inglês). Apesar do trailer mostrar os três mundos, a informação no trailer é que eles vão recrutar trainees “de todas as partes do mundo”, então não sei se a competição “Coreia vs. China vs. Japão” vai rolar.

    Em todo caso, depois das competidoras estrangeiras no GP999 serem humilhadas (com as poucas vencedoras entrando nas últimas posições, mesmo a Hikaru e a Xiaoting carregando o resto do Kep1er nas costas), acho que os rapazes de fora da Coreia do Sul deveriam pensar muito bem antes de aceitarem participar disso aí. Aliás, mesmo os coreanos deveriam pensar muito bem; vai que, um ou dois meses depois que o programa acabar, a Mnet já decide socar o boygroup formado pelos vencedores no próximo Road to Kingdom igual fez com o Kep1er no Queendom 2 (onde elas foram de longe o grupo que mais saiu perdendo – as Brave Girls e o Viviz pelo menos tiveram um momento de glória cada um)…

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