Ako é emo de cabelo vermelho em “All to myself”

Fim de ano nesse blog escrito por esse delicioso (dessa vez eu nem estou sendo irônico, porque os meses de academia estão fazendo efeito e, de fato, estou ficando um gostoso) blogueiro é sempre o mesmo papo: eu percebo que teve uma porrada de coisas ótimas, que ouvi MUITO nos últimos meses, que provavelmente rankearão bem alto no meu eventual topzão, mas que sequer cheguei a comentar aqui. Para isso, a solução é remediar: daqui até antes do natal (que é quando começo o listão interminável, já estou cansado só de pensar), soltarei uns posts frios de trecos que vêm fazendo minha cabeça, mas vocês provavelmente não tinham ideia disso.

Vou dar um gás no J-Pop nesses três primeiros, porque esse deve ter sido o ano que mais negligenciei essa pauta por aqui, depois pego o K-Pop também. A começar por All to myself, de uma gatinha roqueira de cabelo com de papel crepom chamada Ako. Um hino que eu tenho certeza que o Soyeon deve ser se contorcido toda de não ter pensado em fazer antes dela:

A Ako é uma cantora bem recente lá na indústria nipônica. O primeiro trabalho dela saiu em 2020, e ela tem poucos lançamentos (dois EPs e alguns singles) que estão ligeiramente mal distribuídos pelas plataformas de streaming (no Spotify, parte das músicas está na página dela com o nome grafado usando romajis, “ako”, e parte usando romaji e o kanji de “ko”, “a子”, caso vocês queiram procurar).

Não confundam ela com outros também dois nomes recentes lá do J-Pop, a Ado, e a Ano. Ado é a gatinha que estourou ano passado por fazer a voz e as músicas de uma personagem cantora num filme de One Piece e que foi adotada pela Sheena Ringo em Missing. E Ano é a weirdo de voz gás hélio que fez essa OST aqui de “Chainsaw Man”.

Já a Ako é mais “Tomoko Kawase” das ideias. Tenho a impressão de que as músicas dela são construídas mais em torno das letras do que dos instrumentais, o que não impede delas terem instrumentais magníficos, caso de Angel, que pegou um #55 no top do ano passado, e caso dessa aqui, que talvez pegue um top 10. O lance é que o norte das músicas dela parece estar na letra. Por exemplo, a de “All to myself” é super melancólica, pessimista, até meio psicopata (leiam ela em inglês nas legendas, ou ativem a tradução em português, que está bem fiel), e aí a levada da banda vai junto, servindo um rockzinho fim dos anos 90, que ALEATORIAMENTE me lembra Los Hermanos.

Aí uma babaquice minha de ter estudado japonês: eu gosto muito de como ela usa a língua aqui na letra. Por exemplo, em vez dela se referir a ela mesma com わたし (“watashi”, “eu”), ela usa o あたし (“atashi”), que é uma “versão menininha” do わたし, que meio que se liga com a posição mais inferior que ela se coloca na letra, e se liga também com a maneira como o nome dela é escrito (“a子, usando o kanji de “criança”). Uma construção de personagem interessante dentro da narrativa que ela quer passar na música.

Tem também a rima divertidinha que ela faz nos primeiros versos, com 愛 (“ai”, “amor”) sendo repetido no início das duas primeiras frases, e depois entra o 灰 (“hai”) de 灰色 (“haiiro”, “cinzas”), dando uma invertida na coisa toda. Eu sei, eu sei, é bobagem de gente esquisita que gosta de estudar o idioma alheio, mas é o tipo de bobagem que me faz pensar “hummm, ela foi perspicaz aqui”.

O resultado é uma música extremamente gostosinha dentro dessa proposta “garotas roqueiras influenciadas pela Shirley Manson”, ou basicamente “Avril Lavigne”, que quando é bem feito por uma cantora japonesa, as possibilidades são infinitas. Adoro tudo nela, adoro também o videoclipe bizarro com ela e a banda cometendo assassinatos (?) num banheiro público. Me sinto de volta nos anos 2000, catando coisas do The Brilliant Green (ou da Tommy Heavenly6) fóruns adentro nas lan houses da vida.

Uma das grandes representantes do J-Pop nesse longo ano de 2023. Ouçam aí!

Deixe um comentário