Fale o que quiser do Jaden, mas ele conseguiu: a ideia, que muitos, inclusive eu, achei maluca demais para dar certo no K-Pop de formar um girlgroup com 24 integrantes, vingou. E hoje, o tripleS meio que opera como um grupo 48 da vida, onde os fãs mais ou menos ditam os passos da carreira delas, com diferentes formações e lançamentos com subunidades que conseguem não só vender centenas de milhares de cópias físicas (coisa grandes prum grupo de empresa pequena), como permitir que elas (e o ARTMS, aceitemos) viagem pelo mundo em turnês.
Gosto da maioria dos singles do tripleS, mas acho que ainda faltava um lançamento completo realmente ótimo por parte do projeto. E ele enfim veio com o msnz <Beyond Beauty>, que conserta uns problemas que sempre enxerguei no repertório delas e ainda eleva coisas que eu já curtia.
Então, vamos a ele…

Entre minis e álbuns completos, esse já é o DÉCIMO lançamento do tripleS desde o início do projeto, ainda sem todas as integrantes. Para quem nunca se aventurou mais a fundo pelo lore do grupo e simplesmente dá play nas faixas que aparecem, são poucos os lançamentos onde o grupo trabalha completo. A maior parte é composta por subunits de “um só tiro”, formadas de acordo com o que é pedido em cada lançamento. Depois, essas units “morrem”, e aí aparecem outras.
Não é, por exemplo, igual ao NCT, em que as units, de certa forma, são mais constantes em formação e têm comebacks. A ideia, me parece, é “tudo ser tripleS”. Tanto que é uma mesma página para toda a discografia em plataformas de streaming. Sempre me pareceu que, com o tripleS, o importante não são as formações, ou mesmo as integrantes em si, e sim o blocão todo. Eu penso um pouco em “Glee” em comparação, com as músicas/comebacks sendo divididos como se fossem os números musicais nos episódios, aí, no fim, o repertório inteiro é catalogado como “Glee Cast”. Faz sentido?
Há dois problemas (digo, “problemas”) nisso que frequentemente são discutidos na fanbase. O primeiro é o de não haver um esforço real em diferenciar os estilos musicais e estéticos de unit para unit. A maioria das músicas segue uma linha sonora relativamente parecida (pop/funk, urban, etc., com os “la la la la” característicos delas). Não é, tipo, o After School com Night Into Sky, Wonder Boy e Catallena. Daí, fica a impressão de que não precisavam ser units diferentes. Sendo bem honesto, eu nunca liguei pra isso, mas se é o seu caso, o “Beyond Beauty” resolve esse problema.
O segundo, e aí é um que realmente me incomoda, é que o Jaden parece colocar bastante esforço nas titles, mas esquece que há todo um resto de tracklist nos álbuns e EPs. A maioria das faixas neles são de descartáveis a ruins, de modo que o tripleS tem um repertório gigante, mas bem pouco aproveitável em minha opinião. No “Beyond Beauty” isso também é resolvido, mas mais ou menos roubando no jogo, porque quatro das faixas nele foram trabalhadas como single simultaneamente, e a última é um single de natal do grupo inteiro que também ganho MV.
Isso porque msnz não é uma unit em homenagem ao trio de ataque do Barcelona em 2015 formado por Messi, Suárez e Neymar, nem mesmo um revival do trio de filha da Baby do Brasil composto por Sarah Sheeva, Nãna Shara e Zabelê, mas aos trecos astronômicos moon (lua), sun (sol), neptune (netuno) e zenith (o ponto mais alto do céu). É uma unit que se divide em quatro subunits, cada uma com um estilo e uma música que representa esse estilo.
Um TOC pessoal: a ordem do mini não segue a ordem do nome do grupo. Chuto que o motivo disso é que simplesmente quiseram colocar a faixa mais parecida com os demais singles delas logo de início, MAS PORRA, MELHORE, JADEN, porque até a costura de “vibes” dentro do disco ficou estranha por conta disso.
O mini-álbum abre com Magic Shine New Zone. Em tempos onde as faixas do K-Pop têm ficado cada vez mais curtas (só uma das músicas do EP tem mais de três minutos), é até engraçado ouvir uma intro propriamente dita assim. O clima eletrônico “espacial” dela é bem envolvente, nos dá a impressão de que estamos prestes a entrar em um mundo perigoso e emocionante.
O problema é que a faixa seguinte, Fly Up, é literalmente a única aqui que não têm no eletrônico seu fio condutor. Mas é uma música bacana, entregando um pop/funk de gostosa divertido, sendo uma versão 2025 de músicas que o Brave Brothers produziria para o AOA na década passada. Gostar eu gosto, só acho que fica estranha sanduichada entre a intro e “Cameo Love”, que se ligam de uma maneira mais orgânica.
Cameo Love é a “música NewJeans” da tracklist: um popzinho mais melancólico e “bedroom” com o drum’n’bass como gancho principal. Eu gosto muito dos vocais mais desinteressados e sem energia (pior que é um elogio) que elas colocam, pois dá um ar blasé que cola com a coisa toda. As melodias são todas bem cativantes, o refrão é uma delícia, sinto que ela me leva numa viagem legal de ir.
Bubble Gum Girl, como o Dougie disse no post dele, é o número fofo que a galera deve associar com a indústria idol do J-Pop. É um negócio bem colorido, bem energético, com uns sintetizadores que parecem retirados de algum videogame antigo e várias sessões de puro carisma contagiante. Eu achei sensacional.
Assim como Q&A, que pra mim é o prato principal desse comeback (e fácil a melhor música que ouvi do K-Pop nessa rabeira do ano, aguardem ela bem alto no fim do mês). “Q&A” é “Bubble Gum Girl” tunada, mais agressiva, com sintetizadores mais afiados, mais barulhenta mesmo. Nela, eu tenho a impressão de que, enfim, o tripleS levou essa estética (sonora e visual) de colegiais vivendo as confusões de um primeiro amor a um novo nível. Por mim, isso aqui selaria o ponto final dessa era easy listening e o K-Pop voltaria a ser vibrante e entusiasmado como sempre foi.
O mini encerra com Christmas Alone, que é uma música de natal agitada e divertidinha, tal como outras músicas de natal agitadas e divertidinhas que o K-Pop já proporcionou. Não é uma “The Carol” ou “Heart Attack”, mas é gostosinha de ouvir.
Olha, eu achei bom, viu? Pela primeira vez, o tripleS veio com um trabalho fechadinho onde tudo é legal e dá vontade de ouvir e repetir. E “Q&A” é uma das músicas do ano aqui em casa, então kudos pras pirralhas.
Nota 7,0

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E shout out Cocona! Espero que não dê merda e espero que seja um primeiro passo pra uma indústria menos doente que a atual.
Tem alguma coisa nelas que não deixa elas brilharem 100%. Eu considero elas o NCT feminino. Lançam uma coisa boa por ano.
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Acho que o problema é que o Jaden Jeong não fez muito esforço pra ajudar o público a conhecer melhor cada integrante, a personalidade de cada uma e a dinâmica entre elas (por exemplo, quem é a mais extrovertida, quem é melhor amiga de quem, etc.). Pode parecer bobeira (e talvez seja mesmo), mas acho que isso ajuda na identificação do público com o grupo e contribui para o interesse em seguir acompanhando os lançamentos e performances.
O que é uma pena, porque elas parecem ter bastante carisma; falta saber aproveitar isso.
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Gostei desse EP! Foi uma ótima ideia separar as meninas em sub-units com cada unit recebendo uma música e MV (dando mais oportunidade pra cada integrante brilhar), e de cada música ter sua própria identidade mas ao mesmo tempo “conversar” com a sonoridade do resto do EP. E isso faz com que a reunião das 24 meninas na última faixa pareça um encerramento mais grandioso do que seria se todas elas estivessem em todas as faixas (era isso que eu esperava que o Jeong fizesse nos EPs do finado Loona).
Uma pena que eu desconfio que no próximo comeback o JJ já terá desfeito todas essas sub-units e recombinado as integrantes em novas formações, o que eu acho que dificulta identificar as dinâmicas entre elas. Mas comercialmente isso parece estar dando certo (e provavelmente ele vai inclusive repetir a fórmula com a versão masculina do tripleS que está sendo montada), então quem sou eu pra reclamar?
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