O XG é um dos nomes mais interessantes do tecido social que é a indústria pop fonográfica asiática do momento. Sou um velho de guerra desse meio. Acompanho o J-Pop desde os anos 2000, vi o K-Pop “surgir” apoiado em estéticas e estratégias da bolha japonesa, observei de perto a onda hallyu na ilha vizinha com relançamentos e materiais inéditos em japonês, e depois disso o K-Pop andar com as próprias pernas e passar a ditar as regras, conseguindo chamar atenção em coreano mesmo.
É interessante, então, ver hoje o “caminho reverso”. Gravadoras e artistas nipônicos, salvo incursões com a 88rising, nunca pareceram muito afeitos a tentar uma globalização. Tampouco a dar às caras no K-Pop. Claro, há exceções. A Yukika, que se esforçou para fazer ela mesma por lá o citypop que vários acts coreanos vinham se inspirando. O Honey Popcorn, trio de atrizes pornô que resolveram fazer aegyo porque a mais rica entre elas não-ironicamente gostava do estilo. E integrantes dos grupos 48 que, após o Produce 48, resolveram continuar na Coreia em vez de voltar pra casa.
Nessa, o XG me parece o primeiro grupo japonês pensado, desde o início, para funcionar no K-Pop. Mas com uma planejamento para, de certa forma, ser um “J-Pop” no “K-Pop”. Todas as músicas são em inglês, sem versos completos em japonês ou em coreano. A parte estética delas, em questão de videoclipes, da imagem das integrantes e tudo mais, é bem mais em linha com o K-Pop e com o que, hoje em dia, pensam como esse K-Pop “internacional”. Além disso, elas são inseridas em outros meios que são inerentes ao cenário, como participar dos programas dominicais lá, de canais de youtube, divulgações, etc.
Pra mim, o grupo passou a funcionar de verdade a partir do double-A-side (vejam só, um tipo de lançamento tipicamente japonês) “Shooting Star”/”Left Right”. A imagem e sonoridade delas foi sendo desenvolvida ao longo de vários singles diferentes, de modo que, nesse ano, elas parecem ter se encontrado 100%. O que resultou no mini-álbum AWE, do qual falarei nesse momento…